A felicidade é um ponto de vista!
O 5º Seminário Internacional de Comportamento e Consumo – Felicidade e Consumo terminou na última sexta-feira, dia 2 de setembro, no Copacabana Palace Hotel, no Rio de Janeiro. Foram dois dias intensos, um com palestras e outro com workshop, no qual o tema foi profundamente dissecado. Ganham todos: empresas, participantes e o Brasil, que se firma cada vez mais no cenário acadêmico/empresarial como produtor de conhecimento nas áreas de administração, marketing e comunicação, entre outras.
Francesco Morace, presidente do Future Lab Concept, abriu o seminário com a palestra “O Consumo como narração: a felicidade e o cotidiano”. Colocou em foco valores centrais das tendências de consumo contemporâneas, destacando Emoção, Compartilhamento e Sustentabilidade. Chamou atenção para a importância de se utilizar metodologias articuladas de coleta de dados e análise de tendências de consumo, para um monitoramento contínuo do ambiente da empresa. Na opinião de Morace, esse é um percurso indispensável para a definição de estratégias eficazes para integrar a empresa ao seu ambiente de negócios.
Em seguida, Francesca Appiani, curadora do Museu Alessi, fez a palestra: “História e Futuro de uma fábrica de design italiano”. Apresentou a importância do design na transformação da empresa de manufatura fundada em 1921 em uma companhia atual, referência mundial de design. Concentrou-se principalmente nos últimos 30 anos da Alessi, colocando em foco a gestão de Alberto Alessi, que liderou a construção de uma empresa “que produz objetos destinados não apenas a satisfazer as necessidades primárias de seus consumidores, mas procuram contemplar também dimensões poética, artística, paradoxal e lúdica”. A ferramenta para isso é são suas pesquisas no campo da Arte aplicada e sua atuação como mediadora entre a criatividade contemporânea internacional e as expectativas e desejos do público. Isso coloca a Alessi no conceito denominado “Artes Comerciais”, tais como moda, cinema, música e rock, entre outros similares, que ao contrário das Artes Maiores (arquitetura, pintura e escultura) necessitam da aceitação do público para justificar sua existência.
A próxima palestra foi feita por Patricia Dalpra e Marcelo Silva Ramos, do Observatório de Comportamento e Consumo do SENAI/CETIQT e Nicoleta Vaira, do Future Lab Concept, apresentando a metodologia e as análises preliminares e comparativas da pesquisa Hapiness Brasil, que aborda a cultura material da felicidade. A catalogação dos dados é feita num instrumento denominado “Matriz Hapiness Brasil”, efetuado para cada uma das oito cidades onde o trabalho é realizado. Nas linhas estão as variáveis comportamentais, e nas colunas as forças sócio-dinâmicas. O cruzamento entre as linhas e as colunas indica “drives” de comportamento característicos para cada uma das cidades pesquisadas. Para exemplificar, os resultados da Matriz do Rio de Janeiro, onde cruzando a linha “Paisagens e natureza” com a colunas Subjetividade e personalização , o resultado será Andar na Praia. Cada matriz tem, no cruzamento das variáveis comportamentais com as forças sócio-dinâmicas, 30 “drives” de comportamento típicos da cidade onde a pesquisa é realizada. As conclusões da palestra: A felicidade é um “driver” estratégico., e varia de acordo com as “ocasiões da vida”, conceito mais atual e mais abrangente que o “estilo de vida”, uma vez que o estilo varia de acordo com as ocasiões em que as pessoas estão inseridas.
RODADA DE DEBATES – CONCLUSÕES
Para fechar a parte da manhã, foi realizado um debate, que teve como mediadora a professora Miriam Goldenberg, para quem a felicidade esta na moda, pois existem três grandes eventos internacionais acontecendo na mesma semana no Rio de Janeiro discutindo o tema. A pesquisadora lançou a primeira pergunta: “porque a felicidade está na moda, e porque o Rio de Janeiro está centralizando essa discussão, e trazendo pessoas do mundo inteiro para discutir o problema”? , concluindo: “se fossemos felizes, porque estaríamos discutindo a felicidade?” e ao mesmo tempo apontando um paradoxo: “a felicidade se tornou um imperativo, as pessoas estão se sentindo infelizes pelo simples fato de não estarem felizes”.
ECONOMIA E FELICIDADE
O professor Eduardo Giannetti, economista e cientista social, fez a palestra sobre o tema Economia e Felicidade. Colocou como premissa inicial a questão da dificuldade em se tratar a felicidade como tema de estudo, uma vez que cada ser humano é um especialista na questão, e é um “tema intratável, perturbadoramente multidisciplinar”. Giannetti inicialmente definiu o conceito de felicidade, dividido entre o estar feliz e o ser feliz. Concentrando seu foco na dimensão ser feliz, abordou diversas pesquisas onde, para compreender a percepção de felicidade, foi realizada a pergunta básica: “considerando a vida que você tem em todo seu conjunto, você se considera feliz, medianamente feliz ou infeliz”? As descobertas são bastante surpreendentes: (1) descobriu-se que décadas de forte crescimento econômico em países ricos alteraram em muito pouco o nível de felicidade. No caso de países pobres, o aumento de renda compra a felicidade, mas somente até certo ponto, a partir do qual essa diferenciação desaparece. Outro dado curioso: 93% das entrevistadas americanas acreditam estar em melhor situação do que suas avós em relação aos seus direitos e oportunidades, mas 54% não se consideram mais felizes que suas avós. No que diz respeito a ganhadores de prêmios altos (maiores de 500 mil dólares), verificou-se que, passado o pico da euforia, não houve diferença no nível de satisfação subjetiva desses (com o perdão do trocadilho) felizardos. Quando se estuda a relação entre a idade e a felicidade, os resultados das pesquisas mostram que a curva que relaciona essas variáveis tem o formato de “U”. Existe uma percepção de felicidade quando se é mais jovem (e que corresponde em maior proporção ã dimensão de estar feliz, depois as pressões da vida cotidiana se manifestam mais fortemente, na depressão da curva, e finalmente, quando se passa para a idade mais avançada, essas pressões diminuem, e entra em cena com maior força a dimensão de ser feliz. As principais conclusões que os estudos sobre a felicidade mostraram que ao longo do tempo (medido em décadas) a variação positiva entre renda e felicidade tende a desaparecer de maneira global, mas individualmente, para alguns países, essa relação pode ser bastante forte. Observa-se, entretanto, que a partir do momento em que as necessidades ligadas a bens primários são atendidas, a percepção de felicidade passa a estar mais ligada à posição relativa de cada um dentro de seu grupo de referência.
FIORUCCI: 40 ANOS DE ARTE, DESIGN E MODA
Elio Fiorucci, presidente da Fiorucci – Itália apresentou o caso da empresa Fiorucci, dando destaque ao projeto Love Therapy, que nasceu após 40 anos de história e de experiência, que revolucionaram não apenas a moda, mas o estilo de vida, mudando as cores, os materiais e as formas, trazendo divertimento, liberdade, novidade e alegria.
MARCAS EMPRESARIAIS NAS DEMANDAS HUMANAS DE FELICIDADE
Finalizando as palestras do 5º Seminário Internacional de Comportamento e Consumo, o psicanalista Manoel Thomaz Carneiro trouxe alguns conceitos da psicanálise para ilustrar a ligação entre a felicidade e as marcas. Falou do trauma do nascimento, a partir do qual o ser humano se depara com um mundo cheio de necessidades e desejos a serem satisfeitos. Segundo Carneiro, felicidade é “recriar um momento da vida onde a falta não faz falta”. Isso pode ser feito pela esperança de que algo ocorrerá, ou pela sublimação, negando-se o prazer pretendido. O psicanalista faz então uma reflexão interessante, utilizando como base o tema do Seminário: em vez de a felicidade ser um ponto de vista, devemos valorizar “a vista do ponto”, ou seja, devemos buscar aqueles pontos que são mais importantes em nossa vida e focar neles. Essa questão também pode ser levada ao mundo das marcas: aquela que melhor representa o espelho das necessidades humanas não tem crise.
A equipe da Antennaweb/Alemdamoda cobriu o evento a convite da Organização